publicado em 26/06/2023

Que exames fazer para investigar o AVC?

Entenda o por quê de cada exame ser solicitado

Por Letícia Januzi

Quando um paciente vai no meu consultório com o diagnóstico de AVC eu costumo pensar: por que essa pessoa teve um AVC??? Essa deve ser uma das missões do neurologista que acompanha pacientes com AVC, pois a causa pode modificar completamente o tratamento.

Por vezes a causa é muito clara e está bem debaixo do nosso nariz: colesterol alto, pressão arterial fora dos limites, glicose alta, sedentarismo.... mas em outros casos ela não é tão evidente assim e precisa ser minuciosamente perseguida.

Normalmente investigamos o AVC com exames de laboratório (hemograma, colesterol, etc); exames do coração, exames de imagem do cérebro, exames dos vasos do crânio e pescoço e outros. A combinação de exames solicitados deve ser adaptada para cada pessoa, pois cada exame acima tem uma razão para ser solicitado e só o seu médico é capaz de julgar a necessidade.

Lembre-se de que sua história e seu corpo são diferentes do de outras pessoas que você conhece. Por isso, antes de ficar ansioso pensando nos porquês da não solicitação de exame X ou Y, você deve procurar o auxílio do seu neurologista.

Vou descrever abaixo a utilidade de cada exame em linhas gerais:

Exames Laboratoriais:

São importantes para investigar possíveis fatores de risco, como colesterol elevado, diabetes ou coagulopatias (doenças que fazem com que o sangue coagule de forma inadequada), que podem contribuir para a ocorrência de um AVC.

Alguns testes genéticos também podem ser solicitados em busca de doenças hereditárias que podem causar AVC. Essas são circunstâncias mais raras, mas que podem acontecer quando as causas do AVC não são identificadas após ampla investigação.

Exames do coração:

- Eletrocardiograma (ECG): utilizado para analisar o ritmo cardíaco, podem evidenciar se existem bloqueios nos batimentos cardíacos ou arritmias (coração batendo fora do ritmo);

- Holter de 24 horas: é uma espécie de eletrocardiograma realizado durante o dia inteiro. O paciente vai para casa com um aparelhinho que registra seus batimentos durante 24 horas. Serve para investigar arritmias.

-MAPA: é um monitoramento da pressão arterial (PA) feito domiciliarmente em 24 horas. Assim como o holter, o paciente vai para casa com esse aparelho que vai aferindo a PA de tempos em tempos. Importante que o paciente anote na folha disponibilizada pela clínica se está com algum sintoma.

- Ecocardiograma transtorácico: exame realizado por meio de ultrassom aplicado no tórax do paciente para verificar as cavidades e válvulas do coração. Pode evidenciar a presença de coágulos por exemplo ou um coração bombeando de forma insuficiente;

- Ecocardiograma transesofágico: exame realizado por meio de uma sonda de ultrassom que vai através do esôfago do paciente. Ele é mais preciso que o ecocardiograma transtorácico e é comumente utilizado para investigar aquelas passagens anormais que falei acima da circulação direita (venosa) para a esquerda (arterial) do corpo, as quais denominamos de shunt e que são causas comuns de AVCs em pacientes jovens.

Exames de imagem:

- Tomografia Computadorizada (TC) do crânio: uma espécie de RX mais moderno que é capaz de visualizar o tecido cerebral (parênquima cerebral) em tons de cinza. Essa técnica de imagem permite identificar com facilidade alterações agudas, como hemorragias ou áreas afetadas pela falta de irrigação sanguínea. É muito utilizada nas emergências por ser rápida e barata;

Veja abaixo a imagem de uma tomografia de crânio.

- Ressonância Magnética (RM) do crânio: a RM é uma técnica de imagem mais acurada que a TC e pode detectar pequenos AVCs. Não é muito utilizada nas emergências por ser mais demorada e mais onerosa, porém é bastante aplicada no contexto ambulatorial para investigar melhor as áreas cerebrais afetadas pelo AVC.

- AngioTC ou AngioRM do crânio e pescoço: são exames que podem ser realizados durante a investigação da causa do AVC, pois servem para analisar a vasculatura cerebral e do pescoço em busca de estreitamentos (estenoses), obstruções, placas de gordura, aneurismas, etc.

- Angiografia Cerebral: exame conhecido por muitos como cateterismo, porém que avalia também a vasculatura do cérebro e do pescoço, permitindo a detecção de estreitamentos ou oclusões. Ao contrário da angioTC e AngioRM este exame é considerado mais preciso e mais invasivo, pois por vezes pode necessitar de sedação e sempre é realizado em ambiente hospitalar.

- Doppler Transcraniano (DTC): exame não-invasivo feito por meio de um ultrassom aplicado no crânio com o objetivo de verificar o fluxo sanguíneo cerebral e também estreitamentos e oclusões. O DTC pode ser utilizado também para a investigação de passagens anormais da circulação direita (venosa) para a esquerda (arterial) do corpo, as quais denominamos de shunt e que são causas comuns de AVCs em pacientes jovens. Vou explicar mais sobre isso quando falar as causas cardíacas dos AVCs.

- Doppler de carótidas e vertebrais: exame não-invasivo feito por meio de um ultrassom aplicado no pescoço com o objetivo de verificar o fluxo sanguíneo desses vasos e realizar a buscar de estreitamentos e oclusões causadas comumente por placas de gorduras.

 

DICA:

Organizar os seus exames por tipo e data em uma pasta facilita que você não os esqueça no dia da consulta e ajuda o seu médico na condução do seu caso. Muitos deles vão ser comparados meses ou anos depois, por isso, não os descarte sem consultar seu neurologista.

Você costuma guardar seus exames antigos? Eles podem dar dicas valiosas sobre seu estado de saúde e porque você teve um AVC, caso este seja o seu caso. E sempre falo por aqui e pelas redes sociais que é FUNDAMENTAL achar a causa do AVC porque o tratamento pode mudar completamente a depender da causa! Então, fique atento nas suas consultas médicas!

Se você gostou desse texto e conhece alguém que teve um AVC, aproveita para compartilhar a informação.

Com carinho,

Letícia.

Letícia Januzi
Letícia Januzi

Sobre

Atua como médica neurologista especialista em AVC ("derrame cerebral")
Professora da FAMED-UFAL

CRM - AL 5647
RQE 3137

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