publicado em 14/06/2023

Acido acetilsalicílico, AAS, aspirina, somalgin cardio???

Você também fica confuso com tantos nomes?

Por Letícia Januzi

O ácido acetilsalicílico (AAS) é a substância ativa que compõe a medicacão que conhecemos como AAS ou aspirina. A depender do laboratório que fabrique e comercialize a medicação, ela vai possuir um nome diferente: aspirina prevent (laboratório Bayer), Somalgin cardio (laboratório EMS), AAS protect (laboratório Sanofi) etc. As dosagens contidas nessas formulações podem ser bem diferentes, mas geralmente variam entre 81 mg – 325mg.

O AAS foi inventado em 1897 para tratamento de dores nas juntas (articulações), e, desde então, várias pesquisas foram feitas demonstrando seu benefício em diversas doenças. A depender da dose utilizada, pode ter um poder antiplaquetário ou anti-inflamatório, como abaixo:

- dose de 80 – 100mg: poder antiplaquetário, inibindo a agregação das plaquetas, que são componentes do nosso sangue que atuam na hemostasia primária. A hemostasia primária se caracteriza pela ação das plaquetas no estancamento do sangue. Assim ele reduz a chance de formação de trombos nos vasos sanguíneos (nesse caso, nas artérias), reduzindo a chance, por exemplo, de um segundo AVC, um ou IAM (infarto agudo do miocárdio). Ele também pode ser usado para a prevenção de um AVC após um AIT (Ataque Isquêmico Transitório). Se você ainda não sabe o que é um AIT, clique aqui e assista esse vídeo.

 

- dose de 500mg: poder efeito anti-inflamatório, sendo usado para tratamento da dor (analgésico) e febre (antitérmico), mais comumente fora do Brasil. Porém, não deve jamais ser usado de forma indiscriminada, sobretudo em pessoas acima de 60 anos, pelo risco aumentado de sangramento e danos à mucosa do estômago. Nunca faça uso de AAS, mesmo com o intuito de tratamento de dor ou febre por mais 5 dias sem orientação médica.

 

A medicação é contraindicada em caso de alergias ou hipersensibilidade aos componentes da fórmula, diáteses hemorrágicas (doenças que causam alterações na coagulação normal), úlceras gastrointestinais ativas, insuficiência renal, hepática ou cardíaca grave.  Na gravidez ou amamentação o médico precisa ser consultado.

As principais reações adversas são dor abdominal, náuseas, vômitos, diarreia, aumento do risco de sangramento. Existem pessoas que tem risco aumentado de sangramento ou de desenvolver úlceras no estômago. Sangramentos podem ser importantes e, inclusive, ocultos, levando a anemia ou até mesmo a quadros mais graves, por isso é fundamental que o médico oriente a tomada da medicação.

 

Se você teve AAS prescrito por seu médico, saiba que ele deve ser tomado com bastante água e após as refeições para evitar dor no estômago, que é mais comum com o uso do “AAS simples”. Existem formulações de aspirina que contém um tamponamento em dupla camada, uma espécie de revestimento, que prometem prevenir contra lesões do estômago causadas pelo AAS. Outras formulações possuem uma tecnologia chamada “enteric coated”, um revestimento que apenas permite que o comprimido se dissolva no intestino, sendo resistente ao meio ácido do estômago, assim, em tese, reduzem o risco de lesão gástrica e, consequentemente, de dor no estômago.

 

Você talvez esteja lendo esse texto por ser um paciente que teve um AVC ou AIT, já que escrevo muito sobre isso aqui. Realmente o AAS é uma das medicações mais utilizadas na prevenção de um novo AVC. Junto com as estatinas (sinvastatina, rosuvastatina, atorvastatina) eles atuam na prevenção da doença impedindo que placas de colesterol se formem ou aumentem.  Você precisa saber que o AVC tem diferentes causas e nem todas elas possuem o mesmo tratamento, por isso é tão importante que o neurologista especialista em AVC seja consultado para que a causa do seu AVC seja descoberta e adequadamente tratada. Por vezes, seu médico pode precisar substituir o AAS por outro antiagregante (clopidogrel, ticagrelor, etc) ou por um anticoagulante (varfarina, dabigatrana, rivaroxabana, etc...) a depender do que tenha causado seu AVC. Para saber sobre as causas do AVC: clique aqui.

 

ATENÇÃO: A causa do seu AVC deve ser buscada incessantemente, pois o tratamento pode mudar! Procure o seu neurologista.

 

Mas se o AAS tem tantos benefícios você pode pensar: “vou tomar para prevenir que um AVC ou IAM aconteça comigo!” Mas é ai onde mora a chave da questão, o uso do AAS para prevenção primária (prevenção de um primeiro AVC ou IAM) é controverso e apenas pode ser definido junto ao seu médico, pois os riscos e benefícios devem ser bem avaliados.  Por isso, nunca se automedique porque pode ser bastante perigoso. Lembre-se do que sempre comento por aqui, cada pessoa é única e deve ser avaliada de forma personalizada e individualizada!

 

Espero que tenha gostado desse texto e se ficou alguma dúvida, escreve aqui embaixo.

 

Ah, não esqueça de buscar mais sobre esse tem consultando os outros textos do site ou os vídeos das redes sociais: @leticiajanuzi.

 

Tchau, Tchau!

 

Referências:

Charles H Hennekens, MD, DrPH. Aspirin for the secondary prevention of atherosclerotic cardiovascular disease. UpToDate. 2023. Disponível em: <https://www.uptodate.com/contents/aspirin-for-the-secondary-prevention-of-atherosclerotic-cardiovascular-disease?search=aspirin&source=search_result&selectedTitle=2~148&usage_type=default&display_rank=1>. Acesso em: 14/06/2023.

Letícia Januzi
Letícia Januzi

Sobre

Atua como médica neurologista especialista em AVC ("derrame cerebral")
Professora da FAMED-UFAL

CRM - AL 5647
RQE 3137

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